terça-feira, 18 de agosto de 2015

O encontro.


O grande dia finalmente havia chegado! Sua mão tremeu um pouco quando lembrou que a cada badalada do relógio, os minutos diminuíam para estar perto dele... Sorriu pro espelho e voltou a se concentrar na maquiagem firmando bem a mão para passar o delineador. Queria estar linda e essa Cinderela não dependia de fada madrinha disponível no momento para fazer esse grande feito. Como toque final escolheu o batom vermelho que tinha comprado naquela semana, ela gostava de ousar de se mostrar mais quando ia ao encontro dele. Sei lá no meio daquela multidão ela se sentia corajosa. Olhou-se no grande espelho do quarto e se sentiu a garota mais linda do mundo, mas não era porque sua roupa estava bonita e a maquiagem incrível e sim pelo brilho que havia em seus olhos e o grande sorriso de batom vermelho que estampava no rosto. De nada valia uma grande produção se não se sentisse realmente bela por dentro, e naquele dia ela estava se sentindo e mais do isso estava feliz por ir ao encontro de seu príncipe. 
O celular apitou avisando que seu táxi havia chegado, pegou sua jaqueta e a bolsa e a passos largos saiu de casa rumo ao seu destino. No elevador uma selfie - clichê- mas inevitável para passar o tempo e registrar aquele momento. Não postou nas redes sociais resolveu guardar aquele momento para mais tarde, ela nunca foi muito de ser supersticiosa, mas não queria que nada atrapalhasse aquela noite. E isso não tinha nada a ver com madrasta ou meias irmãs malvadas, o que mais preocupava essa Cinderela era mesmo a inveja alheia, e como dizem por aí, essa tem sono leve. O caminho foi tranquilo, São Paulo a noite era realmente linda, sem todo o trânsito do dia a dia, sem as pessoas apressadas correndo para seus compromissos. A noite caia e calmaria também vinha junto com ela, as pessoas nas ruas só iam pro seu destino seja lá um cinema ou barzinho com uns amigos e ela ia ao encontro da pessoa que lhe roubava os melhores sorrisos. 
O mundo parecia que entendia que em algumas horas algo importante iria acontecer com aquela garota, pois o taxista foi quieto o caminho inteiro até o destino, ambos absortos em mundos distantes onde o motorista cantarolava baixinho uma música antiga no rádio, e ela sozinha no banco de trás olhando para janela e para a chuva que caia fininha pelo vidro, sonhando acordada e pensando "o que ele está fazendo agora?" Será que estaria tão nervoso quanto ela? Talvez. 
Ela não sabia se ria ou chorava, mas aquela parecia ser a noite mais fria do mês de julho. Faziam 12º graus em São Paulo e a garoa fina não parava de cair. Que bom que quando o táxi parou os portões do local tinham acabado de se abrir e não precisava ficar esperando na chuva.  Mesmo assim a pele de Cinderela arrepiou-se quando ela saiu do conforto do veículo. O local estava apinhado de gente, ambas animadas, falantes e risonhas, era uma magia contagiante saber que todos ali compartilhavam da mesma felicidade, mas no fundo Cinderela ainda sentia que carregava um quê a mais dentro de si, como se guardasse um segredo de que para ela, aquela era mais que uma noite qualquer, era realmente uma realização de um sonho.  A hostes do local a levou até a sua mesa - primeira fila - estava bem na frente para ver o seu príncipe. Para ela, ele estava mais pra anjo, que com sua voz tocava o coração dela, mas tudo bem chamá-lo de príncipe. 
- Agora só faltam uma hora e meia para vê-lo. - sussurrou para si mesma enquanto conferia a hora no relógio. Resolveu pedir alguma coisa para o garçom, enquanto aguardava e socializava com as pessoas ao seu redor. Pediu um chocolate quente, apesar de ver que todas as mesas continham alguma bebida alcoólica, mas ela não se importou. Ainda estava com frio apesar da casa de espetáculo estar aquecida, e ainda mais ela não precisava ficar entorpecida com alguma bebida, o efeito que aquele que ela aguardava causava em seu coração, já a deixava como estivesse sobe efeito de alguma droga ilícita. 
Cinco minutos depois da hora que estava marcada em seu ingresso, as luzes se apagaram e ela soube que finalmente ele iria aparecer. Uma luz no centro do palco se acendeu e um piano começou a ressoar, introduzindo o espetáculo. O coração dela parecia que sabia que a poucos minutos o encontro iria acontecer, pois começou a bater forte a cada som que aquele piano tocava. O som se encheu num crescente e logo lá estava ele surgindo para a multidão que o aguardava a sei lá horas, dias, meses e até mesmo anos como era com aquela Cinderela. Quando o olhar dela cruzou com o dele sorrindo cantando sua música preferida, foi impossível algumas lágrimas não caírem.  E de alguma forma ele lá de cima de seu pedestal, vulgo palco,  soube que ali havia um coração que a muito esperava por esse momento, pois beijou a ponta dos dedos e soprou para aquela doce menina que ali na primeira fila sorria e chorava ao mesmo tempo. 
As pessoas tem uma mania errada de considerar o para sempre, ele não precisa durar realmente para sempre para se tornar inesquecível, as vezes algumas poucas horas tornam os momentos inesquecíveis. E no final dessa história, não importa que o relógio bata doze vezes marcando que é meia noite. No final ninguém vira abóbora e o sapatinho de cristal é só uma metáfora. Pois o encaixe perfeito dessa história é a voz daquele príncipe que preenche o coração daquela garota. No fim as luzes voltam a se acender e tudo vira real, ele se reverencia para o seu público, agradecendo o momento e discretamente sorri olhando para aquela menina que desde que ele subiu ao palco não tirou os olhos dele. Ele sai e ela volta para casa, olhando pelo mesmo vidro molhado de chuva que não importa que ele não esteja ali naquele momento com ela, pois em seu intimo Cinderela acredita que ele sabe que algum lugar há alguém com um coração que só é completo quando ouve a voz dele. E um dia eles vão se encontrar novamente. 
"Que eu volto é só você sorrir... que eu volto é só fazer assim... que eu volto!"

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