Quando você leva um fora
de um cara chovem conselhos de o quanto ele pode se arrepender, que um dia ele
vai ver o seu valor e voltar atrás. Tenho certeza que você já ouviu isso da sua
melhor amiga. Acredite isso pode sim acontecer.
Dez anos após o ultimo
encontro, lá estava eu com toda pompa, enfiada no meu vestido preto justinho
que toda mulher tem em seu guarda roupa e calçando meu scarpin Chanel, que
comprei em sei lá quantas vezes num brechó na minha ultima visita à Nova
Iorque. Naquela noite nem eu mesma tinha me reconhecido, estava até usando
batom vermelho e, diga-se de passagem, tinha ficado bem bonito. Toda essa
produção era para jantar no Paris 6 com o Carlinhos do 2ºB. Ah claro me esqueci
de que não posso chama-lo de Carlinhos, agora é Carlos Eduardo um advogado de
renome, bem era o que estava escrito no cartão que ele me deu no dia que nos
encontramos no supermercado. Ah vida é mesmo engraçada não é? Estava eu fazendo
minhas compras do mês decidindo se eu comprava um negócio muito caro chamado
Goji Berry ou se deixava pra lá e colocava mais uma caixa de Kit Kat no
carrinho. Só pra esclarecer escolhi o Kit Kat. Foi no meio dessa difícil
decisão que o Carlinhos apareceu.
- Hey você não é Marina
que estudou no colégio Santa Lúcia? - perguntou ele me parando, olhei-o de cima
a baixo e logo reconheci. Carlinhos a minha maior paixão no segundo ano do
ensino médio. O cara era o mais popular no colégio naquela época, alto de
cabelos pretos e um lindo par de olhos verdes, a maior sensação do
colégio. Não havia uma garota naquele ano que não era apaixonado por ele. E
claro eu não fugi a regra. Até tentei alguma coisa com ele, mandei várias
cartas apaixonadas para ele – naquela época eu tendia a romantizar as coisas –
Mas não deu certo, ele me deu um fora por que estava de namoro com a Luiza
claro a garota mais bonita do colégio. Lembro que chorei por uma semana por
causa disso. Mas tudo bem dez anos se passaram e lá estava eu o encontrando num
supermercado.
- Sou sim, você é? –
perguntei fazendo-me de desentendida.
- Não se lembra de mim? O
Carlinhos que estudava no 2º B, melhor amigo do seu irmão. – Lógico que eu me
lembraria daqueles olhos verdes, a pergunta em questão é como ele me
reconheceu. Digo a passagem de tempo me fez bem.
- Ah claro, como eu podia
me esquecer. – Abraços e beijos foram trocados, descobri que ele tinha se
formado e era advogado e morava a cinco quadras do meu apartamento. O encontro
terminou com uma troca de telefones e uma promessa de um dia sairmos juntos
para matarmos a saudade. Aí eu me pergunto que saudade? Quando estudávamos
juntos nem se falar a gente se falava, e eu só era mais uma entre todas as
idiotas que eram loucas por ele naquela época de colégio, só porque ele era o
popular, inteligente e claro o mais bonito.
Mas eu me espantei quando
numa sexta feira a noite ele me ligou e me chamou para jantarmos. Para falar a
verdade eu não estava nem com muita vontade de ir, mas quando um cara bonito
chama uma moça encalhada digo solteira como eu, não há motivo para não
ir. Minha melhor amiga Juliana que não por acaso estava comigo no episodio onde
levei um fora do Carlinhos me incentivou a sair.
- Vai lá amiga, vai ser o
seu sonho de adolescente se tornando realidade. – disse ela me encorajando. E
eu fui, com toda pompa, vestido apertadinho e batom vermelho.
Ele também estava muito
elegante de camisa social azul escura e calça jeans preta. A fila de espera do
Paris 6 estava grande, mas ele que se dizia amigo do dono, logo consegui uma
mesa. Isso que dá ser um bom advogado você faz muitos amigos. Pedimos uma massa
leve com molho branco e vinho, mas confesso que estava doida pra provar a
sobremesa.
- Nossa quase não a
reconheci naquele dia no supermercado, você está muito diferente. Digo muito
mais bonita do que eu lembrava. – disse ele galante me fazendo corar.
- Você também continua
muito bonito como no colégio. – o elogiei.
E foi o que bastou para a noite ser só sobre ele. O meu elogio
desencadeou uma síndrome de narcisismo no cara onde ele só sabia falar do
quanto se dava bem no ramo em qual ele trabalhava e o quanto era requisitado
pelos melhores empresários do país e todo um papo chato de advogado. Naquele
momento eu só sorria e bebia mais daquele vinho que nos era servido, pensando o
que eu tinha visto naquele garoto na época de escola. E nada me vinha na cabeça
alias a única coisa que me vinha era Gabriel meu melhor amigo. Ele também tinha
estudado com a gente no colégio, mas diferente de Carlinhos, ele não era o
popular nem nada disso, era só ele mesmo. Não era reconhecido pelos seus
atributos físicos e sim pelo seu bom humor de fazer piada com tudo e todos,
pela facilidade que ele tinha de fazer amigos, o jeito irreverente de se sair
bem de qualquer situação complicada. Esse era Gabriel e eu não conseguia parar de
pensar nele naquele jantar. Estava doida para comentar com ele que Carlinhos
parecia flertar com tudo e com todos até com pobre do garçom. E de como ele
bebia o vinho sugando o liquido pelas frestas do dente da frente fazendo aquele
barulho desagradável, que me fazia querer rir feito uma idiota toda vez que ele
fazia aquilo.
- Não sei por que não
ficamos juntos na época do colégio, nós combinamos tanto. – disse ele em determinado momento do seu
monólogo.
- Você namorava a Luiza
naquela época. – o lembrei tentado decifrar se ele estava sendo irônico.
- Pois é se soubesse como
me arrependo você sim é uma mulher certa, sabe ouvir não fica querendo ser o
centro das atenções falando mais que a boca. – Fiquei pasma com a tal
revelação, querendo rir, mas indignada ao mesmo tempo. O cara era um babaca por
completo.
- Então prontos para pedir
a sobremesa? – perguntou o garçom. Eu estava pronta para pedir um delicioso e
maravilhoso Grand Gateau, porque para falar a verdade era o único motivo que me
fazia continuar ali com aquele mala, mas o infeliz me interrompeu.
- Não obrigado, para esta
bela moça manter este corpo é melhor ficarmos sem a sobremesa, mas eu gostaria
de um café. – Fiquei olhando para ele de boca aberta sem acreditar que eu
estava no Paris 6 e ia sair sem sobremesa. – Lembro bem no segundo ano você era
meio gordinha, mas melhorou bem.
- Muito obrigada, você
sabe como tratar uma mulher. – respondi serrando os dentes e irônica.
- Obrigado eu sei que sou
um homem raro. – disse o convencido. - E
por causa disso que devemos sair mais vezes,
acho que nós nascemos um para o outro.
Aquela afirmação foi a
gota d’agua. A onde eu estava com a cabeça ao aceitar sair com aquele cara?
- Escute aqui Carlinhos,
acho que não é uma boa ideia não. – fui sendo sincera e dando uma longa golada
no meu vinho.
- Por que não? Estamos nos
divertindo tanto!
- Só você meu caro esta se
divertindo. Olha aqui sabe por que nós não ficamos juntos no colégio? Porque
você me deu um fora e sabe tudo bem isso foi ha dez anos e o que eu sabia sobre
a vida? Nada! Eu nem sei o que eu gostava em você. Eu mudei as coisas mudaram,
minhas vontades mudaram só aceitei jantar com você porque achei que seria
legal, mas eu tirei a prova que melhor ficarmos só neste primeiro encontro
mesmo. – despejei as palavras em cima dele.
- Quer dizer que você está
jantando comigo por vingança? Vingança do fora que eu te dei há dez anos? Pensei
que você fosse mais madura. – aquilo foi o que bastou para minha raiva atingir
o ápice.
- Mas é claro que não seu
babaca! – disse me exaltando batendo as mãos no tampo da mesa. - Eu me enfiei
no meu melhor vestido e até coloquei um salto alto. Se eu quisesse me vingar
mesmo de você eu teria dito não logo na primeira vez. O negócio é que simplesmente
eu nunca te conheci, nem hoje e nem naquela vez no segundo ano. Não sei o nome
dos teus pais, nem se tem um bichinho de estimação. Não sei como você é quando
esta nervoso ou ansioso. Não conheço suas expressões quando está com duvida em
alguma coisa ou feliz. Nesse infinito de coisas gostosas que tem nesse cardápio
você me fez comer massa com molho branco e eu odeio molho branco! E ainda por
cima não me deixou comer sobremesa, me chamou de gorda e cara você não parou de
falar de você mesmo o jantar inteiro. Então acho melhor a gente ficar só nesse
jantar mesmo não acha? – percebi que estava falando um pouco alto e o
restaurante inteiro estava nos olhando, mas minha paciência tinha acabo,
principalmente porque eu estava sem sobremesa.
- É você tem razão, vamos
acabar por aqui. – ele pagou a conta e logo saímos do restaurante, ele nem me
ofereceu uma carona, mas eu também não poderia aceitar depois de tudo o que eu
tinha dito a ele.
No final daquela noite
percebi as voltas que o mundo dá e as vezes nós queremos coisas que no final
não fariam nenhum bem a nós mesmo. Choramos pela perda de coisas sem nos darmos
conta de que as vezes é um livramento.E olha mais uma coisa é que nesse jantar
eu só pensava em Gabriel e em sua transparência e o quanto eu o conhecia e sabia
o que esperar daquela pessoa. E o quanto eu gostava dele. Acho que eu tinha
outra missão a fazer.
- Alô Gabriel? Está
acordado ainda? Que tal a gente ir naquela lanchonete perto da sua casa comer
um cachorro quente e beber umas cervejas?
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