quinta-feira, 10 de julho de 2014

As voltas que o mundo dá.


Quando você leva um fora de um cara chovem conselhos de o quanto ele pode se arrepender, que um dia ele vai ver o seu valor e voltar atrás. Tenho certeza que você já ouviu isso da sua melhor amiga. Acredite isso pode sim acontecer. 
Dez anos após o ultimo encontro, lá estava eu com toda pompa, enfiada no meu vestido preto justinho que toda mulher tem em seu guarda roupa e calçando meu scarpin Chanel, que comprei em sei lá quantas vezes num brechó na minha ultima visita à Nova Iorque. Naquela noite nem eu mesma tinha me reconhecido, estava até usando batom vermelho e, diga-se de passagem, tinha ficado bem bonito. Toda essa produção era para jantar no Paris 6 com o Carlinhos do 2ºB. Ah claro me esqueci de que não posso chama-lo de Carlinhos, agora é Carlos Eduardo um advogado de renome, bem era o que estava escrito no cartão que ele me deu no dia que nos encontramos no supermercado. Ah vida é mesmo engraçada não é? Estava eu fazendo minhas compras do mês decidindo se eu comprava um negócio muito caro chamado Goji Berry ou se deixava pra lá e colocava mais uma caixa de Kit Kat no carrinho. Só pra esclarecer escolhi o Kit Kat. Foi no meio dessa difícil decisão que o Carlinhos apareceu. 
- Hey você não é Marina que estudou no colégio Santa Lúcia? - perguntou ele me parando, olhei-o de cima a baixo e logo reconheci. Carlinhos a minha maior paixão no segundo ano do ensino médio. O cara era o mais popular no colégio naquela época, alto de cabelos pretos e um lindo par de olhos verdes, a maior sensação do colégio. Não havia uma garota naquele ano que não era apaixonado por ele. E claro eu não fugi a regra. Até tentei alguma coisa com ele, mandei várias cartas apaixonadas para ele – naquela época eu tendia a romantizar as coisas – Mas não deu certo, ele me deu um fora por que estava de namoro com a Luiza claro a garota mais bonita do colégio. Lembro que chorei por uma semana por causa disso. Mas tudo bem dez anos se passaram e lá estava eu o encontrando num supermercado.
- Sou sim, você é? – perguntei fazendo-me de desentendida.
- Não se lembra de mim? O Carlinhos que estudava no 2º B, melhor amigo do seu irmão. – Lógico que eu me lembraria daqueles olhos verdes, a pergunta em questão é como ele me reconheceu. Digo a passagem de tempo me fez bem.
- Ah claro, como eu podia me esquecer. – Abraços e beijos foram trocados, descobri que ele tinha se formado e era advogado e morava a cinco quadras do meu apartamento. O encontro terminou com uma troca de telefones e uma promessa de um dia sairmos juntos para matarmos a saudade. Aí eu me pergunto que saudade? Quando estudávamos juntos nem se falar a gente se falava, e eu só era mais uma entre todas as idiotas que eram loucas por ele naquela época de colégio, só porque ele era o popular, inteligente e claro o mais bonito.
Mas eu me espantei quando numa sexta feira a noite ele me ligou e me chamou para jantarmos. Para falar a verdade eu não estava nem com muita vontade de ir, mas quando um cara bonito chama uma moça encalhada digo solteira como eu, não há motivo para não ir. Minha melhor amiga Juliana que não por acaso estava comigo no episodio onde levei um fora do Carlinhos me incentivou a sair.
- Vai lá amiga, vai ser o seu sonho de adolescente se tornando realidade. – disse ela me encorajando. E eu fui, com toda pompa, vestido apertadinho e batom vermelho.
Ele também estava muito elegante de camisa social azul escura e calça jeans preta. A fila de espera do Paris 6 estava grande, mas ele que se dizia amigo do dono, logo consegui uma mesa. Isso que dá ser um bom advogado você faz muitos amigos. Pedimos uma massa leve com molho branco e vinho, mas confesso que estava doida pra provar a sobremesa.
- Nossa quase não a reconheci naquele dia no supermercado, você está muito diferente. Digo muito mais bonita do que eu lembrava. – disse ele galante me fazendo corar.
- Você também continua muito bonito como no colégio. – o elogiei.  E foi o que bastou para a noite ser só sobre ele. O meu elogio desencadeou uma síndrome de narcisismo no cara onde ele só sabia falar do quanto se dava bem no ramo em qual ele trabalhava e o quanto era requisitado pelos melhores empresários do país e todo um papo chato de advogado. Naquele momento eu só sorria e bebia mais daquele vinho que nos era servido, pensando o que eu tinha visto naquele garoto na época de escola. E nada me vinha na cabeça alias a única coisa que me vinha era Gabriel meu melhor amigo. Ele também tinha estudado com a gente no colégio, mas diferente de Carlinhos, ele não era o popular nem nada disso, era só ele mesmo. Não era reconhecido pelos seus atributos físicos e sim pelo seu bom humor de fazer piada com tudo e todos, pela facilidade que ele tinha de fazer amigos, o jeito irreverente de se sair bem de qualquer situação complicada. Esse era Gabriel e eu não conseguia parar de pensar nele naquele jantar. Estava doida para comentar com ele que Carlinhos parecia flertar com tudo e com todos até com pobre do garçom. E de como ele bebia o vinho sugando o liquido pelas frestas do dente da frente fazendo aquele barulho desagradável, que me fazia querer rir feito uma idiota toda vez que ele fazia aquilo.
- Não sei por que não ficamos juntos na época do colégio, nós combinamos tanto.  – disse ele em determinado momento do seu monólogo.
- Você namorava a Luiza naquela época. – o lembrei tentado decifrar se ele estava sendo irônico.
- Pois é se soubesse como me arrependo você sim é uma mulher certa, sabe ouvir não fica querendo ser o centro das atenções falando mais que a boca. – Fiquei pasma com a tal revelação, querendo rir, mas indignada ao mesmo tempo. O cara era um babaca por completo.
- Então prontos para pedir a sobremesa? – perguntou o garçom. Eu estava pronta para pedir um delicioso e maravilhoso Grand Gateau, porque para falar a verdade era o único motivo que me fazia continuar ali com aquele mala, mas o infeliz me interrompeu.
- Não obrigado, para esta bela moça manter este corpo é melhor ficarmos sem a sobremesa, mas eu gostaria de um café. – Fiquei olhando para ele de boca aberta sem acreditar que eu estava no Paris 6 e ia sair sem sobremesa. – Lembro bem no segundo ano você era meio gordinha, mas melhorou bem.
- Muito obrigada, você sabe como tratar uma mulher. – respondi serrando os dentes e irônica.
- Obrigado eu sei que sou um homem raro. – disse o convencido. - E
 por causa disso que devemos sair mais vezes, acho que nós nascemos um para o outro.
Aquela afirmação foi a gota d’agua. A onde eu estava com a cabeça ao aceitar sair com aquele cara?
- Escute aqui Carlinhos, acho que não é uma boa ideia não. – fui sendo sincera e dando uma longa golada no meu vinho.
- Por que não? Estamos nos divertindo tanto!
- Só você meu caro esta se divertindo. Olha aqui sabe por que nós não ficamos juntos no colégio? Porque você me deu um fora e sabe tudo bem isso foi ha dez anos e o que eu sabia sobre a vida? Nada! Eu nem sei o que eu gostava em você. Eu mudei as coisas mudaram, minhas vontades mudaram só aceitei jantar com você porque achei que seria legal, mas eu tirei a prova que melhor ficarmos só neste primeiro encontro mesmo. – despejei as palavras em cima dele.
- Quer dizer que você está jantando comigo por vingança? Vingança do fora que eu te dei há dez anos? Pensei que você fosse mais madura. – aquilo foi o que bastou para minha raiva atingir o ápice.
- Mas é claro que não seu babaca! – disse me exaltando batendo as mãos no tampo da mesa. - Eu me enfiei no meu melhor vestido e até coloquei um salto alto. Se eu quisesse me vingar mesmo de você eu teria dito não logo na primeira vez. O negócio é que simplesmente eu nunca te conheci, nem hoje e nem naquela vez no segundo ano. Não sei o nome dos teus pais, nem se tem um bichinho de estimação. Não sei como você é quando esta nervoso ou ansioso. Não conheço suas expressões quando está com duvida em alguma coisa ou feliz. Nesse infinito de coisas gostosas que tem nesse cardápio você me fez comer massa com molho branco e eu odeio molho branco! E ainda por cima não me deixou comer sobremesa, me chamou de gorda e cara você não parou de falar de você mesmo o jantar inteiro. Então acho melhor a gente ficar só nesse jantar mesmo não acha? – percebi que estava falando um pouco alto e o restaurante inteiro estava nos olhando, mas minha paciência tinha acabo, principalmente porque eu estava sem sobremesa.
- É você tem razão, vamos acabar por aqui. – ele pagou a conta e logo saímos do restaurante, ele nem me ofereceu uma carona, mas eu também não poderia aceitar depois de tudo o que eu tinha dito a ele.
No final daquela noite percebi as voltas que o mundo dá e as vezes nós queremos coisas que no final não fariam nenhum bem a nós mesmo. Choramos pela perda de coisas sem nos darmos conta de que as vezes é um livramento.E olha mais uma coisa é que nesse jantar eu só pensava em Gabriel e em sua transparência e o quanto eu o conhecia e sabia o que esperar daquela pessoa. E o quanto eu gostava dele. Acho que eu tinha outra missão a fazer.
- Alô Gabriel? Está acordado ainda? Que tal a gente ir naquela lanchonete perto da sua casa comer um cachorro quente e beber umas cervejas?

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